Análise Heavy Rain

O ambiente é quase sempre pesado e sombrio

Há anos que a indústria dos videojogos tenta atingir o chamado “filme interactivo”, mas nunca nenhum jogo esteve tão perto desse conceito como Heavy Rain. Ao longo deste jogo podemos controlar 4 personagens e influenciar o seu destino, mas ao mesmo tempo somos espectadores de um thriller intenso e negro que se desenrola à nossa frente.

Quem é o Origami Killer?

Qualquer um dos nossos personagens pode morrer antes do fim do jogo

A história de Heavy Rain gira em torno de um serialkiller implacável, que rapta crianças e as afoga em água da chuva. Um agente do FBI, o pai de uma criança desaparecida, um investigador privado e uma jornalista – são estes os personagens que nos cabe guiar, sempre em busca do assassino e do pequeno Shaun, que tem poucas horas de vida. Se Heavy Rain fosse de facto um filme, o argumento não iria ganhar nenhum Óscar, mas no mundo dos videojogos, está muito acima da média.
As peças deste puzzle vão-se juntando à medida que os personagens seguem os seus caminhos, chegando a cruzar-se em diversas situações. O jogador vai controlando-os alternadamente, mas inevitavelmente vai sentir uma maior ligação emocional a algum dos personagens.
A jogabilidade é extremamente simples, embora nem sempre seja fácil executar o que nos é pedido em tempo útil. Basicamente, surgem no ecrã os botões e/ou movimentos que temos que accionar com o comando e só temos que seguir as instruções visuais. Existem algumas variações: umas vezes temos que manter os botões pressionados, noutras temos que pressionar repetidamente ou com subtileza. Também é frequente pedirem-nos para agitar o comando em várias direcções.
O estado emocional dos personagens tem influência na nitidez com que os comandos surgem no ecrã e por vezes torna-se quase impossível distinguir que botão está associado a que opção, forçando-nos a tomar uma decisão errada, como na vida real.
Todos estes comandos estão de certa forma ligados à acção que se pretende executar. Por exemplo, para lavar os dentes é suposto agitar o comando na horizontal, e depois na vertical, para garantir uma boa higiene oral. O movimento dos personagens faz-se com o analógico direito e o R2, num sistema que vai contra aquilo a que os Gam3rs estão habituados.
A grande vantagem dos controlos de Heavy Rain é que qualquer pessoa consegue jogar, mesmo quem não tem experiência nenhuma com videojogos. A desvantagem é que os jogadores com mais calo vão achar os movimentos pouco intuitivos e algo “presos”. Mas nada que nos impeça de desfrutar a experiência.
O jogo começa num ritmo muito lento, com a execução de tarefas tão banais como fazer a barba ou ver televisão. Mas quando as coisas começam a aquecer, o ritmo muda para cenas de pancadaria, condução em contra-mão, strip-tease, e muitos momentos de vida ou de morte. O desfecho destas situações está nas mãos do jogador, mas não da forma habitual num videojogo. Em Heavy Rain é possível matar ou deixar viver um personagem e continuar a aventura por caminhos distintos. Incluindo as personagens controladas pelo jogador!
Graficamente Heavy Rain é diferente de tudo o que vimos antes. O realismo é a nota dominante, dentro das limitações que as consolas ainda têm. O grande trunfo são as expressões faciais que transmitem emoções de uma forma nunca vista. O motor gráfico está longe de ser perfeito e há vários momentos em que as falhas são evidentes, mas ainda assim é capaz de criar um universo credível e com um ambiente fantástico.

Pensa rápido - há vidas em jogo!

A banda sonora é o um dos melhores componentes deste filme interactivo. Em muitas cenas de Heavy Rain, a música encaixa-se perfeitamente e ajuda a moldar a atmosfera do jogo. As vozes também têm um papel essencial, apesar de ser possível acrescentar legendas. Podemos alternar em qualquer momento entre as várias línguas disponíveis. A versão portuguesa conta com Cláudia Vieira, Pedro Lima, Pepê Rapazote, Vitor Norte, Marco Delgado e Leonor Seixas, nos principais papéis. Pessoalmente prefiro sempre a versão original, mas é de realçar o empenho da Sony na dobragem dos seus jogos.
Heavy Rain é assumidamente um jogo para adultos. Contém cenas de nudez, sexo e violência, como seria natural em qualquer filme do género, mas ainda é raro num videojogo. Depois da parte inicial mais pausada, o jogo puxa-nos para dentro da história e não nos larga até ao final. Mas nessa altura sabemos que chegámos apenas a 1 dos 20 finais possíveis. Os Gam3rs mais curiosos vão querer voltar atrás e mudar o rumo dos acontecimentos em pontos chave do enredo.
Sem levantar demasiado o véu, posso dizer que na minha primeira tentativa terminei o jogo com o assassino morto e apenas um dos meus personagens vivo, mas frustrado. Não contente com este desfecho repeti as últimas cenas do jogo e consegui terminar com dois personagens vivos e felizes, mas deixei o assassino escapar impune. Na minha próxima tentativa tenho a certeza que vou conseguir que todos fiquem vivos e que o assassino seja preso. E vou fazer isso porque me liguei aos personagens e quero o melhor para eles!
Heavy Rain não é ainda um verdadeiro filme interactivo, mas é mais um passo importante nessa direcção e um excelente objecto de entretenimento.